sábado, 11 de dezembro de 2010

“Ninguém fica perto dos catadores, confia ou dá atenção”, desabafa João Batista dos Santos André


Morador de rua diariamente observa Rua Amaral Gorgel.

 O Brasil produz cerca de 230 mil toneladas de lixo por dia, porém apenas 4300 toneladas são destinadas à coleta seletiva. Quem se encarrega de fazer este trabalho são cerca de um milhão de catadores que vêem nessa atitude uma forma de sustento.
Há projetos na região de Higienópolis que estimulam a reciclagem, porém moradores confessam que não há divulgação por parte da Associação de Moradores e Amigos do Pacaembu, Perdizes e Higienópolis , (Amapph). Projetos estes como o Cooper – Rua Recicla no Bairro de Higienópolis - que visa essa cooperação entre os catadores de lixo e condôminos, onde os condôminos se encarregam de separar o lixo, enquanto o catador se responsabiliza pela coleta seletiva. Consolação, Higienópolis, Santa Cecília, Sé e Vila Buarque são exemplos de alguns pontos de coleta seletiva da região. Em contrapartida à acusação dos moradores pela falta de divulgação, os integrantes do Cooper entregam cartilhas para os condomínios para tornar-se claro as propostas do projeto.
 
Outra proposta na região da cidade é o projeto Reciclazáro, desenvolvido em muitos bairros de São Paulo. Dele desenvolvem-se programas como Coleta Seletiva e a Cooperativa de Reciclagem, cujo objetivo é resgatar ex-moradores de rua, catadores de materiais recicláveis e dependentes químicos verem na coleta seletiva uma profissão. “Desde que vim para São Paulo, os prédios em que morei nunca houve coleta seletiva. Em São Vicente sempre tive o costume de fazer coleta, uma prática também incentivada pela prefeitura. Existe um projeto lá parecido com esse e dá muito certo, melhorou a qualidade de vida dessas pessoas”, lembra Flávia Santos Silveira, 22 anos, moradora da Rua Mauá.
 
Conforme denúncias de moradores a coleta não é incentivada onde moram. “No meu condomínio não adianta separar o lixo, pois ao ser despejado é misturado com outros sacos”, afirma Jefferson Amancio, 30 anos, morador da Rua General Jardim; e Ana Florinda, 20 anos, moradora da Rua Mauá que diz que já ter brigado para haver coleta no prédio onde mora, mas não adiantou. “O zelador alega que há um maior gasto para tornar-se sustentável”. Em contraste com os outros entrevistados, Paulo Cesar Vieira, 20 anos, morador da Alameda Nothman, confessa ter coleta seletiva em seu prédio e acha horrível ter que separar o lixo, pois acha trabalhoso.
Catador João Batista dos Santos André – Praça da República

Já o morador de rua, João Batista dos Santos André, 59 anos; ele que encontra como forma de sustento há um ano e meio, pegar latinhas e papelões, na região do bairro República e vender no Largo Coração de Jesus. Entretanto, só os recolhe da rua, pois dificilmente é solicitado para recolher das casas ou condomínios das pessoas. “Ninguém fica perto dos catadores, ninguém confia ou dá atenção”, desabafa o homem já conformado.

“Existem muitos catadores por onde moro, porém não existe convívio entre os moradores do bairro e eles”, declara Paulo César, servindo de comprovação sobre o que havia sido dito por João Batista. 
Esse tipo de situação ainda prevalece apesar de incentivos e projetos que são criados.

Mariana de Andrade